quinta-feira, novembro 24, 2005

Sou webdesigner, e trabalho com artistas em maioria. Isso significa que a maior parte dos meus clientes não tem grana (e os poucos que tem preferem fingir que não). Mas faço isso porque gosto de trabalhar em uma coisa que acredito. Então muitas vezes recebo “obras” em lugar de pagamento. E sempre digo que prefiro uma obra de arte do que um cheque que vai se perder na minha conta de banco, e acabara pagando o meu supermercado, ou algo impressioanante assim. Sei que uma pintura não paga o aluguel, nem a conta de luz. Mas será que a arte não é mais importante? O Monsieur não concorda, e briga comigo porque tenho que ser mais capitalista. Mas desde que terminei a faculdade, e mesmo durante, sempre fui capitalista. Acredito que tenho que mudar, agora ou nunca.


Por isso recebo as minhas obras, algumas melhores do que outras. Cheguei em Barcelona com 6 lindas fotos, pretas e brancas, todas imprimidas pelos próprios artistas. São importantes pra mim porque são o resultado do meu trabalho, e porque são o começo do que um dia espero, será uma coleção de arte.


Fui comprar as molduras, aquelas já feitas, porque agora que trabalho com o que acredito, a grana ficou ainda mais curta. Mas depois das molduras, faltam os passe partout... Sempre que olho pras minhas 6 fotos lembor das palavras do primeiro cliente, na hora de me entregar o “pagamento”:


- Cuidado, impressões assim são frágeis. Não se esqueça de sempre guarda-las em papel sem ácido.


Como assim, papel sem ácido? Pois é. Sabias tu que fotografias de arquivo (aquelas bem feitas que vc deseja guardar durante muitos anos) devem ficar em contato com papel de Ph neutro? Eu não sabia.


Foi nesse momento que minha neurose do ácido começou. Porque como se pode ter certeza de que o papel que vc tem é sem ácido? Se alguém te disse isso, como saber se eles não se enganaram, ou se não mentiram?


Foi assim que encuadrei a primeira foto (minha preferida) numa loja de quadros no final da minha rua. Perguntei, com meu super espanhol, se o passe partout era especial fotos, sem ácido. Mas quem já aprendeu uma língua conhece aquela sensação de que achas que ninguém esta entendendo realmente o que voce esta falando. E resolvi que o quadro (que ficou lindo) devia estar com um passe partout comum.


Pesquisei, procurei, e graças a um amigo de outro amigo fotografo, encontrei um tal lugar que trabalha com fotografos professionais, que fazem um trabalho em que (dizem) eu posso confiar.


Fui na loja. Aí encontrei um pouco de espírito espanhol. A primeira vez estava fechada (claro, siesta). A segunda, o dono não estava, e as outras 3 pessoas que trabalham na loja todos os dias, nao conheciam os preços. Como voce pode trabalhar numa loja e não conhecer os preços dos serviços que essa mesma oferece, eu não sei. Mas aqui é assim. E ainda tem o detalhe de que eles nao sabiam quando o todo poderoso dono estaria presente. Voltai mais duas vezes, dai fiquei esperta e anotei o telefone. Liguei 4 (QUATRO) vezes antes de encontrar o tal de Joel, e descobrir que os meus famosos passe partout custam uma fortuna. Mas fazer o que? Nao tenho opçao, quero cuidar das minhas fotos e dormir sem neuroses. Deixei minhas obras, depois de confirmar mais uma ou duas vezes que realmente, sim, eles trabalham com materiais sem ácido. Agora só falta perder o medo de que alguém vai perder minhas fotos, ou deixar um pouco de café cair em cima, que durmo tranquila. Sem neuroses, e proprietária de lindos quadros (mesmo sem grana pra pagar o aluguel)!




Ganhei uma bicicleta de presente de aniversário atrasado. A minha antiga amada foi roubada em Paris. Só que essa daqui é autentica Barcelona, que dobra! Porque as bicicletas são roubadas sempre, e porque os apartamentos são pequenos, os barceloneses tem essas bicis estranhas, que se dobram até ficarem pequenas. Eu achava isso a coisa mais cafona possível, mas a verdade é que é muito pratico, e que são muito boas e gostosas de pedalar... Então agora ando com ela, olha que bonitinha toda dobradinha:






sexta-feira, novembro 11, 2005

Barcelona

O nosso novo lar tão lindo é quase perfeito (fora as goteiras, o efeito geladeira, e outras cositas mais) fica no bairro El Born. O Born é o novo bairro chique, com muitas lojas e restaurantes fashion, onde se encontra todas as coisas boas de Barcelona. Só que essa parte do bairro termina umas 3 quadras abaixo da minha rua. Onde moro já não é a mesma coisa. Aqui tem muitos imigrantes sem emprego, os velinhos catalões que moram aqui desde mais de 50 anos, crianças e adolescentes incrivelmente mal educadas, e até um carro roubado estacioanado desde que cheguei aqui.

Mas eu adoro, e tenho toda a boa vontade do mundo de conhecer tudo e todas.

Descobri algum tempo atras que tinham brasileiros morando no prédio. Como demorei pra perceber isso não posso explicar. Fiquei com vontade de tocar na casa deles e convida-los a tomar um café. Mas resolvi esperar um pouco. Eles, como todo bom exemplo da nossa cultura na Europa, falam alto, pricipalmente nas escadarias, e escutam muita musica axé e sertaneja em volumes impossíveis. Pricipalmente tarde da noite.

Outro dia tocou o interfone, e como ele não funciona, e não posso falar com a pessoa esperando em baixo, fui olhar pelo terraço, descobrir quem era. Um casal bem vestido estava em baixo, fazendo tchauzinho pra mim. Abri a porta, sabendo que era pra algum outro apartamento. Eles subiram até aqui e bateram na porta do vizinho. Abri a porta pra avisar que não morava ninguém naquele apartamento. Eles, muito surpresos, perguntaram onde moravam os brasileiros. Respondi que achava que eles estavam no terceiro ou quarto andar, toda simpática. Eles também, super simpáticos, puxaram um papo. De onde eu era, o que fazia, etc. Até falavam um pouco de português. E antes de descerem me convidaram a passar nos brasileiros. Porque, sabe, nós somos testemunha de jeová, e temos um grupo de leitura da bíblia....

Ai, ai, ai. Então meus vizinhos brasileiros não somente tem mau gosto em música, são mau educados, mas também são testemunhas de jeová!

Eu mereço...




quarta-feira, novembro 09, 2005

Saí de casa cedo, fui cuidar de papelada: essas coisas inúteis que as administrações dos países nos obrigam à fazer por alguma razão obscura que só eles entendem. Mas diferente das minhas experiências similares na França, fui recebida com um sorrizo, tudo se fez em 10 minutos e não me pediram nenhum documento impossível. Foi tão rápido e fácil que fui passear pelo bairro logo depois. Essa tal de administração fica do lado do meu museu amado MACBA (Museu de Arte Contemporânea de Barcelona). Esperando o MACBA abrir às 11h00, fui tomar um café no bar Original, que fica ao lado. E por acaso escolhi uma mesa verde , desenhada e rabiscada: Bahia; Jorge Amado, Teresa Batista Cansada de Guerra e Mar Muerto (?).

Mas sentada aqui com meu café con leche, meu documento estranho no bolso, me sinto, talvés pela primeira vez, uma verdadeira brasileira com resquícios de França, vivendo em Barcelona.


Mas nem tudo é tão fácil como o documento do empadronamiento semsentido. Preciso trabalhar, e pra isso preciso de uma conecção internet. E pra me conectar preciso de um telefone. Parece simples. Pedimos uma línea fija exatamente um mês atras. Por internet porque a instalação é gratis. Desde então telefonamos, fui à 3 lojas da telefonica, e ontém voltamos à telefonar quatro (!) vezes pra eles. E nada de telefone. Porque não encontraram o pedido; porque faltam informações; porque vão entrar em contato conosco. Porque sim. Entoncer pego o computo, boto na mochila, ando meia hora até o café das moças simpaticas com wifi gratuito, e o wifi não funciona. Pego o metro outra meia hora até o café maneiro na praia com wifi que funciona mas com o pior serviço do planeta. E a bateria do computo começa a reclamar. Então coloco ele de volta na mochila, volto pra casa sem meu café, e faço oferendas ao santo espanhol das companias telefonicas, porque sei que ele, sim, vai me conseguir minha conecção internet!